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domingo, 15 de janeiro de 2017

Dado é Dado, Vendido é Vendido e Emprestado é Emprestado / Fábio de Carvalho Maranhão

III

Essa máxima meu pai sempre me falava: "Dado é dado, vendido é vendido e emprestado é emprestado". As vezes eu não compreendia o porquê de papai repetir essa frase, talvez, pela pouca idade que eu ainda tinha. A Rua Pe. Antônio Borges, aqui em Cortês, foi palco de muitas conversas com ele, que mesmo sendo de pouca conversa, as vezes falava-me apenas com o silêncio. Mas eu me lembrei desse aforismo, digamos assim, quando tomei conhecimento de gestos de pessoas que gostam de dar o que tem, ou as vezes até vender ou emprestar. Falo dar, vender ou emprestar, não me referindo apenas a objetos, ou seja, bens materiais, mas isso também inclui um favor, uma palavra, até mesmo uma sugestão ou conselho. Pois bem, nenhuma das coisas que citei se enquadra na história que narrarei adiante. E dos três verbos ou vícios, se assim pudermos chamar, o que vou me ater nesta narrativa é o verbo "vender", mas dependendo do ponto de vista, ele poderá ser substituído pelo verbo emprestar, mesmo que temporariamente. 
O assunto, iniciando os pormenores, relaciona-se a venda de votos. Vejamos bem: Fulana de tal vendeu seu voto por um valor qualquer, Ciclano recebeu uma gorjeta irrisória para votar em um crápula qualquer e ainda Beltrano trocou sua dignidade por uma consequência alarmante: mais de mil dedos sujos apontados para ele quando caminha pelas ruas da sua cidade. Mas o mais alarmante é que essa história não se trata apenas de pessoas ditas "pobres". Nesse meio todo tipo de gente se envolve e comete o pecado originário de todas as desigualdades que a gente vê por aí. Outro dia, caminhando pela Rua da Concórdia em Recife, pensei que iria adoecer dos pulmões por inalar tanto mau cheiro brotado das calçadas. Será que a venda de voto não gera esse tipo de problema urbano? Ainda bem que aqui em Cortês ninguém vende o voto. É confortante saber disso, principalmente em uma pequena cidade da Mata Sul Pernambucana, onde a maioria das pessoas pensa livremente e que de maneira nenhuma pagam um preço nem são punidos em razão das suas ideias. Mas para encurtar a conversa, sei que pessoas de posses materiais, independência financeira e emancipadas da cidade que resido desde que nasci não se passam a prestar um papel desses. É claro que em uma outra cidade, a qual não desejo registrar aqui o nome por questão de ética, essa realidade é completamente o contrário. Aqui em Cortês não, mas lá, até professores vendem seus votos. Outros trocam coisas mais valiosas do que suas dignidades. Ainda outras pessoas, casadas, solteiras, desempregadas, analfabetas, diaristas, muita gente mesmo, trocam seus votos por aquilo que lhes faltam no momento, às vezes, o valor de três papéis de energia, um aluguel atrasado, um cargo de secretário e secretária na prefeitura, uma volta em algum motel nas redondezas da cidade vizinha, uma carteira de cigarro acompanhado por uma caixa de espumante. Mas graças a Deus aqui em Cortês não se vê isso. Talvez, Cortês seja a única cidade pernambucana, não, brasileira, a não manchar sua história com atos de compra e venda de voto. Mas se os políticos fizeram do voto uma mercadoria, aparecerão consumidores de todos os escrúpulos, com ou sem necessidades, apaixonados ou não por política. 
Quando se aproximam os períodos eleitorais, eu faço questão de sair da minha casa para ouvir as propostas dos candidatos, que por sinal, são todas dignas de compor até uma página da "Carta da Terra" ou até mesmo do Código Universal dos Direitos Humanos. Falo isto em todos os sentidos, pois além de serem dignos os discursos (todos eles), são estruturados de coesão, coerência e de um nível linguístico sensacional. Cortês é exemplo, nesse e em outros aspectos. Aqui ninguém deseja que o adversário morra, que dê outra enchente para vir mais dinheiro para a cidade, aqui ninguém vende o voto, que é fundamental. Eu aprendi muito com meu pai, que só estudou até a quarta série do antigo primário. Uma das coisas que aprendi direito foi não vender, dar nem emprestar meu voto, mas a avaliar em quem vou votar. Até hoje já me arrependi muitas vezes em ter depositado votos em urnas eletrônicas. Mas vou escrever meu desfeche citando um aforismo da minha autoria postado em um outro blogger meu que se encaixa muito bem a minhas idéias e minhas ações: "Minhas palavras não são como pedras lançadas que não mais retrocedem. Sempre escrevo com lápis e borracha para corrigir as ortografias equivocadas". E isto se dá em vários níveis.  Ainda bem que sei muito bem o que se deve dar, vender e emprestar. Imagina se eu não soubesse. Mas agradeço muito a Anísio Teixeira, pois aprendi com ele a não ter compromisso com as minhas idéias, e sou grato a Darcy Ribeiro, pois também aprendi com ele que quem carrega suas verdades não estar apto a mudar de opinião, mesmo quando é necessário, por isso, "sempre escrevo com lápis e borracha para corrigir as ortografias equivocadas", e isto, claramente, também vale para as minhas ações...

Fábio de Carvalho [Maranhão]

15/01/2017, 13h27min - Domingo, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular].

2 comentários:

  1. Viva Cortês e sua gente incorruptível. Viva o poeta cronista e professor, violeiro e também cantador. Viva!!!!

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    1. Zé, um grande abraço para o amigo! E aquela nossa canção precisa sair.Viva "Zé Ripe, grande Artista Palmarense, terra onde nasci!

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