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domingo, 16 de abril de 2017

Moça Velha e Rapaz Novo / Fábio de Carvalho [Maranhão]

XVI

Há pouco mais de dois anos, quando em viagem com meu compadre Alexandre Camilo, seu filho Rikelme e seu compadre Gonzaga à capital pernambucana, presenciei uma cena engraçada com o penúltimo amigo citado. Não sei se no momento, o jovem recém-chegado à adolescência teve vontade de fato de rir ou de chorar quando passou por aquela situação não tão comum, pois o sujeito, mesmo sem querer, só tinha seus "talvez" quinze anos, mas como às vezes as aparências enganam, fomos convidados naturalmente a sorrir e sem esforço, perpetuar no legado do filho do meu compadre, os efeitos estéticos da cantada que ele recebera de uma jovem com seus mais de sessenta anos. Falo jovem porque sua alma era juvenil.

Após visitarmos algumas lojas na Rua da Concórdia e entorno, nos dirigimos a um setor onde havia várias casas de optometria, com o intuito do meu compadre renovar seus exames oculares e trocar seu óculos, que segundo ele, já estava em boa hora de trocar. Chegamos a um prédio, cujo mesmo não me recordo a localização exata, e subimos uns andares. Lá, conversamos, tomamos café, olhamos armações de todos os tipos. Perdemos-nos do tempo. O ar condicionado estava contribuindo para uma acomodação formidável. O calor já não existia. A fome fora suspensa. Aquele andar nos deu a oportunidade de concluir que em um trajeto tão pequeno, coisas inesperadas pudessem acontecer. 

Lembro que quando entramos, na segunda cadeira do banco de espera, estava sentada uma senhora, cuja aparência não negava sua vaidade. Estava vestindo vermelho florido, Sandália rasteira e óculos escuros estilo coração. O batom era violeta. Anéis, pulseiras e cordão de ouro não lhe faltavam. A bolsa que carregava, pelo jeito, não faltava nada. Ela passou um rabo de olho no amigo citado, que quem quase caía foi outro senhor que acabara de entrar. 

___ Vai vê foi "olhado", resmungou Gonzaga no meu ouvido.

Dali em diante, Rikelme não teve mais sossego. Para onde ele ia a senhora, chamada Astrogilda, pois depois eu descobri quando o senhor da ótica a chamou para entregar-lhe o óculos que estava pronto. Mas em um piscado de olhos ela desapareceu. Logo vi no rosto do amigo que um alivio lhe tomou.  Dali em diante não falamos sobre isso. 

Terminada a consulta do meu compadre nos dirigimos à escadaria e fomos descendo distraídos. Quase na chegada do primeiro andar, uma mulher surgiu de súbito, e após corrigir todos nós, fixou o olhar em Rikelme, e cravando-lhe a mão direita no braço, bem na altura do músculo central, pergunta-lhe:

___ Posso segurar no seu braço para descer a escadaria?

Com a fisionomia meio que desconfiada ele responde:

___ Pode sim!

Gonzaga, meu compadre Alexandre Camilo olharam um para o outro em silêncio absoluto e em seguida olharam para mim. Ninguém falou. Descemos todos em silêncio. Rikelme perdera a língua momentaneamente. Hesitou em proferir qualquer palavra. Perto do último degrau, quase no térreo, dona Astrogilda quase sem fôlego vocifera:

___ Muito obrigado Rikelme! 

Automaticamente, resmunga um "de nada" bem vago, e achando que havia acabado ali o inesperado daquele dia, escuta o desfecho proferido pela madame em tom malicioso e repleto de segundas intenções:

___ FOI MUITO MELHOR PEGAR NESSE BRAÇO CARNUDO DO QUE NAQUELE FERRO SEM ALMA!

O ferro que ela se referiu foi o ferro do corrimão. Gonzaga e meu compadre, discretos, no momento fizeram que não ouviram, enquanto eu com o olhar fixo para a outra mão de dona Astrogilda, percebi quando ela enfiou no bolso de Rikelme seu cartão de visita. Nesse momento eu virei as costas. Mas de ouvido atento, gravei as últimas palavras proferidas para meu amigo de apenas 15 anos na época...

___ Aí tem meu Whatsapp...

Eu nunca contei esse detalhe a meu compadre Alexandre Camilo nem a Gonzaga. Quem vai gostar de saber vai ser seu tio Bilú, irmão do seu pai. Desde o dia em que ele lhe contou parte dessa história Rikelme não teve mais sossego. Bilú não perde tempo...


Fábio de Carvalho [Maranhão] 16/04/2017, - Domingo, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]Descrição: clique aqui

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