Contador de Visitas

contador gratuito de visitas

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Sr. Ferreira, Profeta e Filósofo: ensaio sobre os covardes / Fábio de Carvalho Maranhão

Sr. Ferreira, Profeta e Filósofo: ensaio sobre os covardes / Fábio de Carvalho Maranhão

VII

Alguns fatos são impressionantemente desastrosos do ponto de vista da covardia, da fraqueza, do egocentrismo e da dupla personalidade. Esses dias estive pensando sobre isto e tirei algumas conclusões, mas eu jamais teria pensado nisso, se no início do século XXI eu não tivesse conhecido um sujeito ainda moço, com reduzido muito vigor nos olhos, pois desde sempre demonstrou um ar de mandrião. Sua disposição sempre foi, dentre algumas, para tomar cachaça e largar brincadeiras inoportunas sem hora e escolha de pessoa. Não lembro até a data de hoje ter conhecido um sujeito assim. Mas para falar dos fatos impressionantemente desastrosos dos pontos de vistas supramencionados, narrarei por alto a história das histórias de João Malandro, incluídas nos meus diálogos um amigo caro. Creio que é de suma importância, pois passados quase vinte anos, ainda encontro gente da mesma índole do tal sujeito, e que ainda por cima, jura de pés juntos que gosta de trabalhar e que pensa no outro, sendo altruísta por natureza, e de resto, bom colega.

Certa vez, em conversa com o senhor Ferreira, bem no meio da ponte principal da Praia de Suape-PE, gravei bem uma máxima citada por ele, e confesso que só depois de algum tempo eu compreendi de maneira mais natural e receptiva, pois para os meus ouvidos, aquilo soava como uma nota musical com acordes impróprios, e para minha alma, como um pecado irreparável...

___ Estais vendo aqueles ali, Alberto?
___ Estou seu Ferreira! O que eles tem?
___ Não arrisca?
___ De certo!
___ Mande.
___ Amizade.
___ Certamente. Quer saber de uma coisa? Conheço todos desde moços, e pela experiência que tenho, basta um vendaval para seus chapéus caírem e cada um correr atrás apenas do seu...

Eu fiquei pensativo após ouvir tais palavras, e emendei com uma breve interrogação e um leve oscilar de ombros:

___ E?...
___ O que eu quero dizer é que quando o problema ou a solução finda com a satisfação pessoal, o outro que se foda, cada um que se vire, porque pior do que uma queda é um coice na sucessiva, por isso, o bom mesmo, é sempre ficar na retaguarda e sempre vê se há ou não pedra no próprio sapato.

Passados muitos anos, com um acervo de muitas experiências, eu tenho comprovado isso através de muitos fatos constrangedores gerados por pessoas que pensando que o outro é desprovido de intelecto ou simples vontade de pensar, não analisa e conclui suas dissimuladas ações mal planejadas e antônima ao altruísmo.

Outro dia, o senhor Ferreira lembrou-me essa conversa, e para ser sincero, o velho, pois hoje posso chamá-lo assim, mas com respeito, tinha e tem toda razão. Entre um café e uma poesia, ele me fazia uma pergunta e as interrogações ficavam no ar, porém, debatíamos bastante sobre suas filosofias cheias de coerência e realismo entre uma música com violão e uma boa cantoria.

___ Quantos dos seus amigos deixariam ou deixaram de lado o que possivelmente lhes é ou seria cômodo para estar ao seu lado em um momento de exposição e de enfrentamento?

Pensei um pouco. Fitei os olhos do indagador sereno e experiente. Franzi a testa. Conclui: ___ Até agora, nenhum.

___ Já travastes algum embate que não apenas viesse a culminar só na sua vitória ou derrota, mas na derrota ou vitória dos teus pares, e na hora de levantar a espada, a lança, subir a cavalaria, empunhar o escudo, ninguém o acompanhasse, com a desculpa de que não há o que fazer, pois a batalha seria em vão, ou por covardia, ou por não querer se comprometer com a luta coletiva e certamente dolorosa e dura, fato este que geraria uma série de intempéries, tropeços e árduas caminhadas?
___ Sim. Algumas de curta e outras de longa duração.  
___ E existiu ou existiram àqueles que, dissimulados, tentaram simular ou simularam, estar na batalha, mas ao mesmo tempo falando a língua do inimigo, assinando acordos de boca ou de papel, aceitando o peso mais leve, quando na verdade, deveria seguir dividindo o peso e lutando na batalha com as mesmas armas e com os mesmos objetivos?
___ Sim. Muitos surdos, outros mudos, outros coxos por opção.
___ Não vês? Quantos chapéus caíram? Mas certamente, muitos possuem outros chapéus para substituir o chapéu perdido, e ainda há aqueles, que não se incomodam com o sol ou não possuem calvície. E se há quem tente recuperar o tal chapéu de mexicano, que garante sombra para todos, para que então se queimar ao sol e na batalha? Compreendes? Essa é a reflexão.

O senhor Ferreira me falou tais palavras e tantas outras com um ar de profeta e filósofo me fazendo crê naquilo que o peso dos anos, mesmo tendo ainda meia idade, me ensinaram. Logo pude concluir também, que quando Papai me falava "Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu, décimo terceiro os outros", ele traduzia perfeitamente e de maneira mais simples, as mesmas palavras do velho Ferreira. Papai estudou até a quarta série, um ano a mais do que o senhor Ferreira. Citamos isto depois da terceira xícara de café, no Café Donuts, no North Shopping Caruaru-PE. Nesse dia, entre o trágico e o cômico conversamos em tom de comédia para a vida não perder a graça...

___ Alberto!
___ Fale, seu Ferreira.
___ Faz feito disse teu Pai. Eu só mudo o pronome: "Primeiro tú, segundo tú, terceiro tú, décimo terceiro os outros".
___ A partir de amanhã será assim, seu Ferreira.
___ Será, Alberto?
___ Me conhecendo como o senhor me conhece, lhe resta alguma dúvida?
___ Nenhuma!
(...)
___ Sei Ferreira.
___ Fala, Alberto.
___ E aqueles amigos que o senhor me mostrou há alguns anos na ponte da Praia de Suape, que fim levaram?
___  Fizeram um bolão na Mega-Sena, e o mais calado sumiu com o bilhete premiado. Os outros três quase enlouqueceram de raiva e quase saia morte...
___ "!!!"
(...)
___ Outro café, por favor!
___ Dois...

Fábio de Carvalho [Maranhão]

12/02/2017,19h30 - 20h47min- Domingo, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular].

Nenhum comentário:

Postar um comentário