XIII
Certo dia, quando tive a oportunidade de
conversar com o amigo Jofre Belizário na capital pernambucana, pude refletir
sobre diversas questões relacionadas à tolerância, respeito, boa convivência e
principalmente, o respeito à cultura plural que consagra a humanidade. Vi nos
olhos do amigo, uma coisa que há muito não constatava nas pessoas quando
expunham suas opiniões ou discutiam sobre assuntos distintos: seus olhos
brilhavam quando a conversa inclinava para aspectos da fé e da religiosidade
humana. Parte da conversa merece destaque tanto para acentuar práticas
religiosas de pessoas quanto para demonstrar a ignorância de outras.
Estávamos em frente à Igreja do
Carmo quando iniciamos o diálogo, e entre um diálogo e outro, um fato
que me chamou atenção foi sobre um momento cigano, se é que assim o posso
chamar, ocorrido na Capital do
Agreste de Pernambuco, Caruarú, quando uma pessoa do seu circulo de
amizade, ao encontrar uma cigana, foi surpreendido por ela ao expressar a
vontade de querer ler a sua mão. Se a memória não me falha, o diálogo discorreu
da seguinte maneira...
___ Bom dia, abençoado!
___ Bom dia!
___ O senhor me deixaria ler a sua mão?
Em um piscado de olhos, o tal sujeito,
segundo Jofre, respondeu de forma áspera e pejorativa:
___ Só se a senhora me deixar ler a sua!
___ O que o senhor disse?
___ Nada não! Deixa pra lá!
A cigana, sem compreender já compreendendo
a falta de respeito, que por sinal, lhe ocorria com frequência, ficou a observar
o indivíduo caminhando, e sem nem olhar para trás, sorria por deboche, sem
calcular o tamanho da falta de respeito que acabara de praticar. Jofre, em um
tom mais respeitoso, olhou para a Cigana, e proferiu:
___ Perdoe o meu amigo. Ele é resultado da
mistura de intolerância com fanatismo. É um pobre diabo que só acredita no
dinheiro e nos efeitos que ele pode causar. Ademais, não pensa em outra coisa a
não ser ganhar dinheiro.
O dileto amigo me contou essa história, e
da mesma forma lembrei-me de um ato de
ignorância e intolerância que chocou, talvez, o mundo. Mas como a conversa
não deu brecha para eu emendar com essa infeliz lembrança, resolvi escutar o
amigo e refletir sobre a questão...
___ Sabe Demóstenes, observando essa
igreja de Nossa Senhora do Carmo, lembrei-me de uma cerimônia religiosa que
assisti pela televisão, aonde as palavras do líder nada mais fazia do que
ofender outras religiões, em especial, as religiões Espíritas, Matrizes
Africanas e em geral, a Umbanda. Até parecia que aquele líder da sua igreja,
estava incitando a violência contra pessoas que professam e praticam livremente
sua fé, que em outra leitura, remete-se a sua cultura, que porventura, trata-se
da cultura dos povos que nos precederam historicamente falando. A Umbanda, todos
sabem, é uma religião nascida aqui no Brasil, mas que expressa elementos da
cultura religiosa dos povos africanos, e que através do sincretismo,
incorporaram na sua matriz, elementos do Catolicismo, e que ainda, por
essência, carrega um perfil espírita, que no popular, muita gente chama de
espiritismo de terreiro. Além de tudo isso, a Umbanda não trata apenas de
trabalhar diretamente com os chamados "santos", orixás, caboclos de
guia, enfim, existem tantos elementos importantes que caracterizam essa
profissão de fé dessa gente. Uma delas são as rezas de cura. Outra são os
remédios criados pelos Pais e Mães de Santo. Você sabe de uma coisa absurda que
eu ouvi da boca daquele inconsequente?
___ Não. Se o amigo falar...
___ Pois saiba que ele teve a ousadia de
dizer que em terreiro o negócio só é bom para visitar quando se estiver sem
dinheiro para tomar cachaça, e que, como lá não falta, é pra lá que ele vai
quando estiver com os bolsos vazios.
___ Ele ainda vai se prejudicar com esse
tipo de comportamento e demonstração de mau caráter.
___ Se meu senso intuitivo não me engana,
eu acho que ele já estar é colhendo o que tem plantado.
___ Ele pensa que Santo de Casa não obra
milagre não é amigo?
___ O deixa pensar. Depois não vá procurar
uma reza de cura com um Pai ou Mãe de Santo quando estiver na precisão.
___ Eu respeito a todos e a todas. São
para mim, dignos e merecedores de respeito.
___ Cada um só dá o que tem.
___ Sim. E ele sabe o que faz Jofre.
___ E como sabe Demóstenes...
Fábio de Carvalho [Maranhão]
26/03/2017, 14h13min - 14h27min - Domingo,
Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]
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