XXI
Eu não bebi na fonte de Raymundo Faoro para me
embasar teoricamente e compor este ensaio que não gostaria de ter escrito sob
certo ponto de vista, mas quando li sua obra durante minha formação em História, conclui e permaneço convicto de que ela serve até hoje para compreendermos não só os desdobramentos da origem da
burocracia brasileira, mas também da corrupção em tempos do Brasil Colonial. Por
isso, realizando este exame, inicio dizendo que o cenário político brasileiro
anda desgastado graças a Canalha, que varia de analfabéticos políticos, comerciantes
de votos, atravessadores de partidos, propineiros e fabricadores de caixas
dois, mídia fascista, eleitores interesseiros, e como se não bastasse, toda gente omissa que se neutraliza,
cavando para si, sua sepultura no lugar mais quente do inferno. Costumo dizer,
que esta ultima parte da canalha, nem pisando-lhe um dos pés, gritam ou pedem
socorro. Mas geralmente, quem cala a boca diante de alguma situação
de injustiça, certamente é avesso aos princípios "guevarianos", e sempre tem ao pé
de si, a cartilha do “bê-a-bá” dos jogos de interesses. Geralmente, esse tipo
de canalha, dispõe de independência financeira e emancipação pessoal, que,
diga-se de passagem, são situações distintas. Não posso deixar de ascender a
ideia que me pairou a mente para escrever alguns ensaios em outros tempos,
tendo comigo, quase dois volumes prontos de composições em prosa versando sobre
as filosofias morais que hoje, estão em extinção, como os animais,
sacrificados pela ação do maior predador da terra.
Digo, não de passagem, que a crise moral,
hoje em dia, é tão alarmante, que não se ver outra coisa predominar na maioria
das instituições que não seja o tráfico de influência, a prática de uso
indevido das atribuições dos cargos que ocupam e o corporativismo pautado em
princípios oligárquicos, conforme ocorre desde o Brasil Colonial, Monárquico e
acentuado com a Velha República que fora mais Monarquia do que outra coisa. A
Nova República, recheada de Golpes Políticos de Estado e Militares, tem nos
dado o verdadeiro mau exemplo da canalhice geradora da crise política que
desmoraliza desde as Cidades brasileiras até os Estados e, não por ventura, também a própria federação.
Não se pode imaginar que o tripé mandatário do país, mudará os rumos das
realidades sem que os discursos hipócritas percam seus efeitos e tenham validade prematura e irrestaurável.
Não posso deixar de observar e tentar
desconstruir os discursos hipócritas dessa casta que tenta se perpetuar no
poder. Cada um possui uma arma, para tanto, nem todos sabem ou tem a coragem de
fazer uso da força e habilidade que possui, não por medo ou falta
de incentivo. O fato é que os jogos de interesses são tão visíveis desde as
esferas locais até a esfera nacional, que algumas pessoas rasgam do próprio
passado, as páginas que foram escritas com luta, dignidade, esforço e discurso
pautado no exemplo. Outros não ligam para a imagem, e sem constrangimento,
quando eleitos, perseguem eleitores, lideranças religiosas agem como
verdadeiros fariseus, pois ao invés de enxergar antes da ação, a vontade do
Deus que crer e defende, praticam crueldades que variam desde a ganância pelo
dinheiro até a negação de um copo de água solicitada por um penitente que lhe
bateu a porta rogando-lhe auxílio. Mas ainda há os que fecham suas portas para não
acolherem os pertences e as pessoas vítimas das enchentes, os que desejam
catástrofes ambientais para que as verbas a fundo perdido cheguem aos cofres
públicos para darem "dia santo" e deitarem em cima de colchão feito
com maços de garoupas.
Mas tudo isso é apenas um ensaio. Existem
situações, que não só justifica o desgoverno do Brasil em suas três esferas
como também explicam por si só, atentados contra a Democracia, a violência que tem crescido
assustadoramente e, além disso, a omissão de autoridades em face ao
caos instalado principalmente, em cidades alvos de assaltos a empresas de
valores e caixas eletrônicos.
As vezes, tomando meu café, torrado e bem
forte, eu me pergunto o porquê da canalha ser tão forte, cheia de raiva por
dentro e maldosa ao ponto de esquecer que tudo algum dia, também será passado.
Será que vale a pena discursar para pessoas que julgam inocentes, ignorantes,
analfabetas, reproduzindo falas que não condizem com a realidade? A canalha,
para ser mais direto, tem características distintas e metodologias de trabalhos
diversas. Para descrevê-la, é preciso dizer que existe a canalha
manipulada, a que serve de papel higiênico, para tentar limpar a sujeira
da canalha mandatária, que instrui indiretamente a canalha
manipulada para agir conforme os seus interesses. Mas a canalha
manipulada não é totalmente "ralé", na maioria das situações, são pessoas
esclarecidas, que pertenceram a outros grupos de políticos e religiosos, até
viram a casaca para times que jamais torceram por pura e simples conveniência.
Para a canalha manipulada, o que lhe importa é o dinheiro, o salto
e a pose. Pousar em fotos, dar uma de celebridade humilde achando que todos
acreditarão nos seus discursos infames e repletos de incoerência, pois na
teoria, o verbo dar uma lição discursiva, como se houvesse em suas palavras,
instruções discursivas de Bachelard ou até mesmo de Octávio Paz. Claro que existem outros
nomes que poderiam ser citados aqui como Paul Ricoeur, Hayden White e principalmente Michel Foucault 1* 2*,
mas que geralmente, decoram frases de efeito, mas na prática, não sabem
escrever um artigo de opinião para um boletim informativo aspirante a jornal de
circulação regional.
Não bastando as ações desprezíveis da
Canalha, outra coisa que ela pratica e que perturba muito a vida das pessoas, é
quando o peso da influência e a falta de imparcialidade nas suas ações são
sempre recorrentes. Para ser mais claro, lembro-me que, em dias de maio, a mão
pesada de um Rei passageiro e de uns funcionários sem expressividade, espaço, capacidade intelectual e exemplo à posteridade, andou cortando cabeças de
súditos por, historicamente, não terem afinidade com suas práticas de governo.
Foram muitas as cabeças cortadas. Cabeças pensantes, produtivas e jovens do
ponto de vista da canção popular. Não é de espantar que
as facas são amoladas e cortem feito navalhas, sonhos e possibilidades, mas como
disse o poeta pernambucano "Eu quis
ficar aqui, mas não podia / O meu caminho a ti, não conduzia / Um rei
mal coroado, não queria / O amor em seu reinado / Pois sabia,não ia ser amado...",
e essa canção combinou tanto com a situação, que para mim, que tive também os
ouvidos inflamados por discursos capazes de fazer vomitar e a cabeça quase
decepada pela arma da assinatura, que viajei na filosofia para entender que a
canalha tem validade, mesmo que só deixe de governar, pregar, erguer reinados e
impérios quando seu Rei desencarnar.
Mas para tudo existe uma saída. E a
coisa que mais incomoda os quer são líderes e praticam corporativismo
escancaradamente, é a liberdade dos que não comem na mesma mesa que eles nem
mendigam as migalhas que caem dos seus pratos...
Fábio de Carvalho [Maranhão]
Nenhum comentário:
Postar um comentário