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quarta-feira, 29 de maio de 2019

O Artista Vai Onde o Povo Está! Depois a Gente Conta Nossa História... / Fábio de Carvalho Maranhão

Enquanto muita gente pensa que para caminhar nas estradas das artes basta carregar consigo um violão, se encher de vaidade, escrever um ou dois versos com rimas, cadência, oração e sequência para impressionar quem ler ou ouvir uma declamação, vestir-se ou de acordo com seu perfil, ocasião ou seu espírito de artista. Existem tantas outras coisas possíveis de citar,mas enquanto isso deixo a cargo do amigo leitor e da leitora amiga a fluência da capacidade imaginativa. 
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Nós, artistas, pisamos em um chão áspero, que por sinal, muitas vezes, maltrata e gera desânimo. Já conheci, convivi, conversei, tomei conhecimento de muitos que deixaram a labuta artística por pisar em pedras pontiagudas e espinhos violentos. Outro dia, quando fui a Palmares cumprir uma Agenda Cultural na FAMASUL, faculdade que realizei graduação e pós em Ensino de História, enquanto eu organizava o material, escutei uma rápida conversa entre dois colegas presentes, onde um afirmou que alguém que ele conhecia só abandonou o chão da música por não carregar alma pura de artista. Não pude interferir na conversa por não achar conveniente e por saber que cada caso nos remete a uma história de vida diferente, porém, na minha cabeça passou um filme de suspense, aja vista, tenho desanimado bastante quando o assunto é continuar tocando o barco da música com o mesmo orgulho de quando comecei a trabalhar com esta arte profissionalmente. Lembro que um falou da seguinte maneira:
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___ ...parou porque não é um artista de sangue puro!
___ Falando assim, mais parece com o discurso infame do nazista...
___ Falo sério!  Era para ele ter continuado, pois o cara toca um violão condenado...
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         Confesso que ao ouvir aquela conversa, o coração acelerou. Para estar em Palmares levando comigo minha poesia, minha música e canções de artistas que escreveram com sua arte não apenas a história da música brasileira, mas também a história do nosso país, deixando um legado de engajamento social e de vergonha na cara, eu cumpri uma jornada muito corrida e me esforcei bastante, para uma vez tendo cumprido as obrigações até 17 horas daquela quarta-feira, eu pudesse escrever mais um capítulo da minha história e participar da história dos pesquisadores, acadêmicos, historiadores, estudantes do curso de Ensino de História presentes naquele evento promovido pelo professor mestre, poeta, escritor e historiador Vilmar Carvalho, acadêmico da casa. Eu, como artista do evento, ex-aluno já havia registrado, recarreguei minhas baterias cerebrais a partir do momento em que recebi aquele boa noite caloroso do meu ex-professor de economia política e orientador do artigo científico que escrevi durante o pós-graduação, intitulado de “História e Poesia na Sala de Aula: Inovando O Ensino De História Nos Anos Finais Do Segundo Ciclo Do Ensino Fundamental”.
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___ Boa noite, Poeta!
___ Satisfação revê-lo professor!
___ A satisfação é nossa!!!
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         Antes mesmo de dialogarmos um pouco, emendei com uma ideia cuja menção fora uma forma de agradecimento de maneira antecipada ao amigo e ex-professor, por ter me convidado para tomar de conta da agenda cultural do evento de mesa redonda com os professores mestres e doutores Alexandre Lima e Marlon Oliveira, ambos meus ex-professores, e Jeferson Evânio, ex-colega do curso de especialização em Ensino de História:
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___ Sinto-me honrado pelo convite, pois Palmares, sendo um celeiro de Artistas, o senhor me convidou para trazer minha poesia e minha música...
___ Além de ex-aluno, és um excelente poeta e músico, Fábio.
___ (...)
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         Entre uma conversa e outra, os acadêmicos e participantes em geral foram chegando, se acomodando, cumprimentando uns aos outros, enquanto eu, com o peso da jornada corrida que percorri até aquela quarta-feira, fiquei imaginando o que é que um artista, um poeta, um músico engajado, com responsabilidade social não faz para contribuir de alguma maneira com algo que possa surtir efeito no pensamento e na construção de ideias das pessoas. Aquele evento me deixou orgulhoso, pois além de ser composto por sua quase totalidade de Historiadores, eu pude apresentar um trabalho com um nível histórico e uma dinâmica estética muito importante. Para se ter ideia, não é conveniente tocar na noite, em bares e churrascarias algumas daquelas canções, como faço com frequência no aconchego do meu lar. Na noite o repertório é diferente. Não se costuma encontrar nesses ambientes pessoas que busquem nas metáforas das canções o êxtase da estética histórica que mexa com seu intimo. Se bem que muita gente anda preocupada mesmo é com o próprio umbigo ou com a vida privada das pessoas. É por isso que quando abri o evento tocando Gonzaguinha, senti um arrepio ao perceber os olhares, o acompanhamento labial de quem cantava junto, outros em silencio, meditando na letra, como se estivessem paralisados. O professor Vilmar cantou de maneira recatada todas as canções que apresentei. De Chico Buarque a Gonzaguinha; De Belchior a João Bosco e Almir Blanc. Fazia tempo que eu não sentia um fluido tão positivo quando se fala em apresentação musical. Quando dei conta, o tempo havia passado, e como se o relógio não tivesse corrido, parecia que ainda haveria mais uma ou duas horas para tocar o coração dos que ali sentados, trabalham no dia a dia contribuindo para retirar a venda dos olhos de muitos e muitas que são contaminados pelo teatro midiático que veste nosso país que chora e que rir, que rir e que chora...
         São nessas horas que fazemos várias reflexões como artistas, poetas, compositores, músicos entre tantos outros... Fazemo-nos perguntas, indagamos a nós mesmos se vale à pena está no chão da estrada, levando para as pessoas nosso recado, nossa imagem, nosso discurso, aquilo que acreditamos ser importantes para todas e todos nós. Eu disse para mim mesmo, em surdina de pensamento:
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___ Se der tempo eu faço uma boquinha lá na cantina...
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É que com tanto corre-corre acabei não jantando, e como o ônibus que leva os universitários sai às 18 horas em ponto, eu tive que me apressar um pouco mais. Não cumpri o cardápio como de costume. Mas aquele meu pensamento era negativo.
Durante a viagem de volta, tive a sorte de sentar a meio palmo de uma das cadeiras do ônibus, que por sinal estava lotado. Duas amigas ao me verem com violão e uma bolsa de costas naquele imprensado em pleno corredor, falaram para mim:
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___ Fabinho, senta aqui...
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         Aquele gesto para mim valeu tanto à pena, que me lembrei de pronto da minha tia Irene Carvalho, quando me dizia “Deus ajeita os seus, quando a gente pensa que não vai se aguentar nem em pé, ele manda alguém arrastar um tamborete pra gente sentar e descansar pra tomar fôlego”. Era mesmo assim que ela me falava quando aos goles de café com leita, altas horas, aqui na avenida São Francisco, em Cortês, varávamos a madrugada. Eu não sei dizer quando vale um momento desses, uma lembrança dessas, uma emoção tamanha. Eu acredito em Deus e nas palavras da minha tia-madrinha e avó, pois tudo que ela me falava era com o coração, e isso dava para ler não nos seus olhos, mas na sua expressão. Se ela falou que Deus arranjaria alguém arrastar um tamborete quando nós não nos aguentássemos mais ficar em pé, e eu sempre acreditei, o dia de tirar a prova real foi nesse dia, que por sinal, foram duas pessoas amigas e jovens e promissoras. Karolayne e Michele foram os anjos que minha tia tanto anunciou. É por essas e outras que sempre falo: O artista vai onde o povo está! Depois a gente conta nossa história...
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         Já ia me esquecendo: quando cheguei ainda escrevi uma crônica...
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Fábio de Carvalho Maranhão
Cortês-Pernambuco, quarta-feira, 29 de maio de 2019 (23h05min – 23hs31min) – Biblioteca Particular / Escritório de Trabalho.
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Autofotografia
Biblioteca Particular / Escritório de Trabalho
Sábado, 13/Abril/2019.


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