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terça-feira, 28 de maio de 2019

Quem Fura Fila do Almoço não Deveria Ter Direito à Sobremesa / Fábio de Carvalho Maranhão


Enquanto as regras de etiqueta, boa educação, bons costumes, cordialidade e vergonha na cara vão sendo esquecidos, deixados para trás, caindo em desuso, escândalos do ponto de vista do amundiçamento vão se proliferando no meio de todas as classes socioculturais. Apesar de muitas vezes sabermos que determinada coisa não se deve praticar, muita gente acaba caindo no erro ou na canalhice de querer se dá bem até em fila pública de almoço. Como se não bastasse à falta de educação de muitos e muitas, uma coisa que ignoram é a ética do ponto de vista da conduta e do exemplo que, alguns profissionais, deveriam fazer uso, especificamente aqueles e aquelas que se auto-declaram professores e educadores.
Quando Renato Russo e Ruben Alves falaram sobre o espelho, muitos profissionais da educação confundiram as metáforas, e ao invés de verem um mundo doente e de se acharem na condição de exemplos, preferem adoecerem da doença da falta de educação e de oportunistas. Paulo César Pinheiro e João Nogueira expressaram com excelência o que de fato um espelho pode gerar em nossas vidas. Refletiram e registraram sobre seus espelhos e, além disso, além deles para suas vidas, deixando claro suas maiores influências a respeito do que marcou na sua infância e do que vale a pena levar a diante, além, um legado familiar, para uma descendência digna de exemplo vindouro e presente.
Quando as realidades vão se desenhando e as pessoas vão se adaptando a situações cotidianas do chamado “jeito brasileiro”, muita coisa tende a dá errado, especialmente quando há quem se exponha em cometer violações de direitos básicos do ponto de vista da isonomia ou de por que não dizer da igualdade.
Outro dia, participando de evento educacional, pude observar de maneira discreta situações que variaram desde situações diversas e palavras relacionadas a comportamento, oportunismos, vulgarismo, canalhice, caráter, desrespeito, violação, gula, desmoralização, exemplo, dissimulação, entre outros.
O dia estava cansativo. Segundo dia de estudos, produções, debates, palestras e naturalmente, quando nos dedicamos mais a alguns afazeres, sentimos, talvez, mais fome e sentimos uma maior necessidade de sentarmos à mesa um pouco mais cedo.  Havia muita gente no prédio público da Escola Leão da Ilha. Professores, gestores, auxiliares, secretários, palestrantes, aspirantes a pessoas educadas e inteligentes, gente com ar de professor e professora “só que não”, esfomeados, viciados em furar fila e aqueles que observavam de longe toda uma indigestão de maus costumes e lamentáveis controvérsias, ou seja, contradições éticas que certamente são naturais para uma boa quantidade de “professoras” que ou furam uma fila para almoçarem ou morrem de fome caso não cometam ao menos uma vez por dia um ato que desqualifique a imagem do professor em geral.
Perto de mim, havia uma professora que, discretamente, observava tudo, e de maneira sutil, reprovava o que via com um leve balançar de cabeça, inclinada para baixo e com a mão no queixo e a outra segurando o cotovelo para melhor se apoiar. Eu sorria com o coração não por achar engraçado ou por me afirmar superior em educação familiar aos que estavam presentes, mas por entender toda aquela situação e saber que existiam pessoas ali que também tem um compromisso com sua imagem através da ideia do espelho de Rubens Alves, já que a maioria presente, além de quebrarem o espelho, utilizaram seus cacos para influenciarem outras que ali estavam a praticarem a má educação e adicionarem mais uma à coleção de fura filas.
Passados os minutos, mais de trinta profissionais da má educação passaram na frente dos que chegaram primeiro. Eu não me incomodei, mas meu estômago embrulhou. Não tive escolha e pensei:
*
___ “Isso vai me render pelo menos uma crônica...”
*
         Havia uma professora que não se contentando em ter furado a fila na cara dura, chamava outras de uma maneira tão escandalosa que chegou até a incomodar outra que a antecedia.
*
___ “Vem fulana, passa na minha frente, eu deixo...”
___ Mulher, tú és doida é? Vou não!
___ Por que, doida? Eu furei porque tú não pode furar também?...
*
         Após a conversa, sem querer querendo, acredito que por força do hábito, a professora se enfiou no meio das outras e caíram numa risada tão sarcástica, mas tão sarcástica, que gotas de saliva da boca de uma caíram em cheio no prato de comida de uma das suas comparsas. Depois disso foi que foi risada. Até a prejudicada sorriu, gargalhou, ficou vermelha e emendou com essa frase:
*
___ O que não mata engorda! Estais com gripe suína, mulher?
___ Eu mesmo não! Vira essa boca pra lá!!
___ Então sai na urina...
*
         A situação era tão escandalosa que eu cheguei a acreditar por fração de segundo que eu estava no meio daquele povo que não pode ver comida, não por não ter o que comer, mas por antar com o espírito da gula no couro e a falta de educação como um fanatismo religioso que se pratica.
         Logo mais retornaríamos para darmos continuidade aos estudos, e como se não bastasse, além dessas práticas lamentáveis, acharam por bem sujarem mesas escolares e corredores com copos descartáveis.  Não bastando, pouco depois após almoçarem, fizeram competição para verem quem arrotaria mais alto. Eu não acreditei no que eu via discretamente. Dessa vez combinaram para se afastarem dos demais a fim de realizarem a competição de maneira menos escandalosa. Chegaram a apostar o lanche da tarde, que ao que tudo indicava, seria servido no momento de sair. Imaginem só, eram sete senhoras e senhoritas, professoras, apostando comida, furando fila, chamando palavrões e apostando arrotos. Olhei para a professora que também observava tudo, e por coincidência estava almoçando perto de mim e perguntei:
*
___ Onde é que esse mundo vai parar?
*
         Ela, sem ter muito que falar, deu de ombros para cima e para baixo, e não faz igual à ganhadora do concurso de arrotos, não falando com a boca cheia, não gargalhando e consequentemente não cuspindo todos que estavam próximos a nós, como ocorreu na fila, só que sem a boca cheia, não chamando palavrões, enfim, não disse uma palavra, mas disse tudo com seu silencio, seu olhar e seus ombros. Quando olhei para a cadeira que a professora havia arrastado para perto de si, percebi um exemplar de Moacir...
*
___ Já leu esse, professora?
___ Acabei de ler
___ Vamos trocar?
___ Qual o título desse?
___ “Poema Limpo: Eu, dentro de mim”.
___ É seu? Sim.
___ Está trocado!
*
         “Rimos...”
         Eu tenho o mesmo exemplar na minha biblioteca. Mas como o momento foi propício, repassei meu livro e acabei repassando o adquirido. Moacir Gadotti é exemplar, pensei em voz alta...
___ Sim...
___ Uma boniteza, não é?
___ Um sonho...
 *
Fábio de Carvalho Maranhão, Cortês-Pernambuco.
Terça-feira, 28 de maio de 2019 (21h49min – 22h49min) (Biblioteca Particular / Escritório de Trabalho)

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