Enquanto as regras de etiqueta, boa
educação, bons costumes, cordialidade e vergonha na cara vão sendo esquecidos,
deixados para trás, caindo em desuso, escândalos do ponto de vista do
amundiçamento vão se proliferando no meio de todas as classes socioculturais.
Apesar de muitas vezes sabermos que determinada coisa não se deve praticar,
muita gente acaba caindo no erro ou na canalhice de querer se dá bem até em
fila pública de almoço. Como se não bastasse à falta de educação de muitos e
muitas, uma coisa que ignoram é a ética do ponto de vista da conduta e do
exemplo que, alguns profissionais, deveriam fazer uso, especificamente aqueles
e aquelas que se auto-declaram professores e educadores.
Quando Renato Russo e Ruben Alves
falaram sobre o espelho, muitos profissionais da educação confundiram as
metáforas, e ao invés de verem um mundo doente e de se acharem na condição de
exemplos, preferem adoecerem da doença da falta de educação e de oportunistas.
Paulo César Pinheiro e João Nogueira expressaram com excelência o que de fato
um espelho pode gerar em nossas vidas. Refletiram e registraram sobre seus espelhos
e, além disso, além deles para suas vidas, deixando claro suas maiores
influências a respeito do que marcou na sua infância e do que vale a pena levar
a diante, além, um legado familiar, para uma descendência digna de exemplo vindouro
e presente.
Quando as realidades vão se desenhando e
as pessoas vão se adaptando a situações cotidianas do chamado “jeito brasileiro”,
muita coisa tende a dá errado, especialmente quando há quem se exponha em
cometer violações de direitos básicos do ponto de vista da isonomia ou de por que não dizer da igualdade.
Outro dia, participando de evento educacional,
pude observar de maneira discreta situações que variaram desde situações
diversas e palavras relacionadas a comportamento, oportunismos, vulgarismo,
canalhice, caráter, desrespeito, violação, gula, desmoralização, exemplo,
dissimulação, entre outros.
O dia estava cansativo. Segundo dia de
estudos, produções, debates, palestras e naturalmente, quando nos dedicamos mais
a alguns afazeres, sentimos, talvez, mais fome e sentimos uma maior necessidade
de sentarmos à mesa um pouco mais cedo. Havia
muita gente no prédio público da Escola Leão da Ilha. Professores, gestores,
auxiliares, secretários, palestrantes, aspirantes a pessoas educadas e inteligentes,
gente com ar de professor e professora “só que não”, esfomeados, viciados em
furar fila e aqueles que observavam de longe toda uma indigestão de maus
costumes e lamentáveis controvérsias, ou seja, contradições éticas que
certamente são naturais para uma boa quantidade de “professoras” que ou furam
uma fila para almoçarem ou morrem de fome caso não cometam ao menos uma vez por dia
um ato que desqualifique a imagem do professor em geral.
Perto de mim, havia uma professora que,
discretamente, observava tudo, e de maneira sutil, reprovava o que via com um
leve balançar de cabeça, inclinada para baixo e com a mão no queixo e a outra
segurando o cotovelo para melhor se apoiar. Eu sorria com o coração não por achar
engraçado ou por me afirmar superior em educação familiar aos que estavam
presentes, mas por entender toda aquela situação e saber que existiam pessoas
ali que também tem um compromisso com sua imagem através da ideia do espelho de
Rubens Alves, já que a maioria presente, além de quebrarem o espelho,
utilizaram seus cacos para influenciarem outras que ali estavam a praticarem a
má educação e adicionarem mais uma à coleção de fura filas.
Passados os minutos, mais de trinta
profissionais da má educação passaram na frente dos que chegaram primeiro. Eu não
me incomodei, mas meu estômago embrulhou. Não tive escolha e pensei:
*
___
“Isso vai me render pelo menos uma crônica...”
*
Havia uma professora que não se
contentando em ter furado a fila na cara dura, chamava outras de uma maneira
tão escandalosa que chegou até a incomodar outra que a antecedia.
*
___
“Vem fulana, passa na minha frente, eu deixo...”
___
Mulher, tú és doida é? Vou não!
___
Por que, doida? Eu furei porque tú não pode furar também?...
*
Após a conversa, sem querer querendo,
acredito que por força do hábito, a professora se enfiou no meio das outras e caíram
numa risada tão sarcástica, mas tão sarcástica, que gotas de saliva da boca de
uma caíram em cheio no prato de comida de uma das suas comparsas. Depois disso
foi que foi risada. Até a prejudicada sorriu, gargalhou, ficou vermelha e
emendou com essa frase:
*
___
O que não mata engorda! Estais com gripe suína, mulher?
___
Eu mesmo não! Vira essa boca pra lá!!
___
Então sai na urina...
*
A situação era tão escandalosa que eu
cheguei a acreditar por fração de segundo que eu estava no meio daquele povo
que não pode ver comida, não por não ter o que comer, mas por antar com o
espírito da gula no couro e a falta de educação como um fanatismo religioso que
se pratica.
Logo mais retornaríamos para darmos
continuidade aos estudos, e como se não bastasse, além dessas práticas
lamentáveis, acharam por bem sujarem mesas escolares e corredores com copos descartáveis. Não bastando, pouco depois após almoçarem,
fizeram competição para verem quem arrotaria mais alto. Eu não acreditei no que
eu via discretamente. Dessa vez combinaram para se afastarem dos demais a fim de realizarem
a competição de maneira menos escandalosa. Chegaram a apostar o lanche da
tarde, que ao que tudo indicava, seria servido no momento de sair. Imaginem só,
eram sete senhoras e senhoritas, professoras, apostando comida, furando fila,
chamando palavrões e apostando arrotos. Olhei para a professora que também observava
tudo, e por coincidência estava almoçando perto de mim e perguntei:
*
___
Onde é que esse mundo vai parar?
*
Ela, sem ter muito que falar, deu de
ombros para cima e para baixo, e não faz igual à ganhadora do concurso de arrotos,
não falando com a boca cheia, não gargalhando e consequentemente não cuspindo
todos que estavam próximos a nós, como ocorreu na fila, só que sem a boca cheia,
não chamando palavrões, enfim, não disse uma palavra, mas disse tudo com seu
silencio, seu olhar e seus ombros. Quando olhei para a cadeira que a professora
havia arrastado para perto de si, percebi um exemplar de Moacir...
*
___
Já leu esse, professora?
___
Acabei de ler
___
Vamos trocar?
___
Qual o título desse?
___
“Poema Limpo: Eu, dentro de mim”.
___
É seu? Sim.
___
Está trocado!
*
“Rimos...”
Eu tenho o mesmo exemplar na minha
biblioteca. Mas como o momento foi propício, repassei meu livro e acabei
repassando o adquirido. Moacir Gadotti é exemplar, pensei em voz alta...
___
Sim...
___
Uma boniteza, não é?
___
Um sonho...
Fábio
de Carvalho Maranhão, Cortês-Pernambuco.
Terça-feira,
28 de maio de 2019 (21h49min – 22h49min) (Biblioteca Particular / Escritório de
Trabalho)
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